Os caminhos para o desenvolvimento energético nacional
Mudanças para a soberania do país no setor passam por planejamento e transição para fontes renováveis
No segundo dia de eventos sobre o Bicentenário da Independência e os rumos do Brasil, realizado pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, especialistas se reuniram para debater uma das principais vulnerabilidades do país: o planejamento energético e os desafios para a transição para energias mais sustentáveis. O encontro, comemoração à Independência, faz parte de uma série de debates que a universidade realiza para discutir os problemas do país e traçar caminhos para o desenvolvimento contínuo.
A mesa Desafios da soberania energética, analisou, sob mediação de Thereza Paiva, professora do Instituto de Física da UFRJ, os caminhos para o desenvolvimento energético nacional, também como base para o desenvolvimento econômico e social. No debate, os painelistas abordaram o papel do governo na gestão do sistema energético e a realidade de outros países.
As diferentes fontes de energia do país favorecem a diversificação de uma matriz renovável com o uso de energias limpas. Ex-diretor da Petrobras e conselheiro do Clube de Engenharia da UFRJ, Guilherme Estrella avalia que esse é um entendimento urgente e que ações precisam ser feitas para alcançar uma economia verdadeiramente de baixo carbono.
“Temos um país que é quinto território emerso no mundo, temos a maior floresta equatorial do planeta, somos o país mais bem servido de bacias hidrográficas, temos os dois maiores aquíferos subterrâneos do planeta, somos ricos em minérios e temos um povo com o genoma mais diverso do planeta. Esse é um país especial”, afirmou Estrella.
Estrella reforçou ainda que o país ainda apresenta dados de consumo não condizentes com essa realidade.
“Ao mesmo tempo, somos a 13ª economia mundial, mas estamos nas últimas posições de distribuição de renda, riqueza e propriedade, e isso se reflete no consumo energético”, enfatizou.
Transformação energética como oportunidade para reindustrialização
Uma maior eficiência energética carece de investimentos para tornar as energias limpas mais atrativas. O olhar para essas mudanças ainda impulsiona o crescimento econômico, aumentando a geração de postos de trabalho e a consequente aceitação da população.
Clarice Ferraz, professora da Escola de Química da UFRJ, diz que o Brasil e outros países realizam esforços nessa direção, mas ainda é preciso estabelecer políticas públicas que incentivem a pesquisa e o desenvolvimento.
“A mudança para fontes renováveis de energia traz transformação social por meio da industrialização, criando empregos mais qualificados e especializados. Por outro lado, a carência de energia exclui parte da sociedade, gera problemas de saúde e acidentes”, disse Ferraz.
Segundo a pesquisadora, a transição deve ser pensada e acompanhada de um modelo de planejamento econômico.
“A redução de consumo não é necessariamente saudável, pode representar uma indústria que deixou de produzir. Quando falamos de transição energética justa, a pergunta é quem vai pagar pela adaptação da infraestrutura. O Brasil já tem energia limpa e um sistema vascular que, bem coordenado, permite o uso da energia de uma forma democrática”, afirmou.
As condições para o país atingir um lugar de destaque em todo o mundo são favoráveis e o amplo debate é necessário para traçar os melhores caminhos. No entanto, ações coordenadas dependem de outros fatores, que devem estar alinhados com o que é primordial para toda a sociedade. É o que avalia Aquilino Senra, professor da COPPE/UFRJ:
“Trata-se, sobretudo, de uma decisão política, não exclusivamente técnica, uma vez que envolve outros segmentos importantes para o desenvolvimento. Falar de energia é falar de segurança alimentar, segurança territorial”, completou ele.
Essa e outras mesas que fizeram parte do evento Bicentenário da Independência e os rumos do Brasil podem ser acompanhadas, na íntegra, no canal do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no YouTube.