Indústria brasileira é a chave para alcançar a autonomia tecnológica
Especialistas debatem como o domínio tecnológico levará o país a um salto de qualidade em diferentes setores
No mês em que o Brasil comemora o bicentenário de sua Independência, o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ aproveitou a efeméride para estimular a reflexão sobre os acontecimentos históricos que ocorreram no período e como projetar um futuro soberano para o país. Os entraves para o amplo desenvolvimento tecnológico foram discutidos em uma mesa dedicada ao tema. O encontro ocorreu durante o evento “Bicentenário da Independência e os rumos do Brasil”, no dia 21, com a participação de doentes, cientistas e pesquisadores.
Intitulada “Desafios da Soberania Tecnológica”, a mesa contou com a mediação do professor do Instituto de Física da UFRJ Antônio Carlos Fontes dos Santos. Para enriquecer o debate, quatro integrantes – Luciano Coutinho, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fernando Peregrino, professor da COPPE e diretor executivo da Fundação Coppetec, Carlos Gadelha, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz) e Luiz Fernandes, professor da UFRJ e do Instituto de Relações Internacionais da PUC-RJ – analisaram a importância do desenvolvimento tecnológico no contexto global e o momento vivido no Brasil.
Em evolução constante, a nova era digital pode ser cada vez mais associada à aplicação na indústria e o peso desse desenvolvimento gera impacto tanto no mercado como na sociedade. É essa a análise de Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES.
Para proteger ou sustentar uma recomposição e um desenvolvimento de condições de soberania tecnológica, nós vamos de forma indissociável precisar da recuperação da indústria brasileira. A indústria mundial vem se transformando em um processo acelerado, com a digitalização, e precisamos gerar empregos de qualidade. Essa é a condição para a base da soberania
Desenvolver o setor para o que os especialistas classificam de “indústria 4.0”, no entanto, envolve desafios que vão desde investimentos em tecnologias e novos equipamentos até processos ao longo de toda a cadeia produtiva.
Em linha com Coutinho, Fernando Pelegrino, diretor executivo da Fundação Coppetec, reafirmou a necessidade de evolução tecnológica para a construção de um ambiente de desenvolvimento.
A soberania de um país hoje é mais dependente do seu conhecimento, do domínio de tecnologias estratégicas, do que das matérias primas ou de condições geográficas. O insumo do século XXI são as tecnologias
Se comparado a outros países, o Brasil ainda amarga uma posição pouco confortável em relação a tecnologias digitais e automação na indústria. Embora a pandemia tenha ajudado a potencializar uma nova etapa nas transformações digitais, a completa evolução tecnológica carece de investimentos em diferentes áreas com grande potencial de desenvolvimento.
Evolução tecnológica como questão de saúde pública
Carlos Gadelha, pesquisador da Fiocruz, lembra que é difícil pensar a vida e sociedade distante da tecnologia. Por isso, ele explica que a economia, a base industrial, a inclusão social e a sustentabilidade ambiental estão interligadas.
A saúde não é ausência de doença, saúde é qualidade de vida. A questão da política industrial, científica e tecnológica virou uma questão de saúde pública e de defesa da vida. Não dá mais para separar o mundo tecnológico do mundo da vida, ambiental, social e da própria autonomia dos estados para fazerem políticas públicas
Como os gargalos de sustentação para o desenvolvimento tecnológico passam por investimentos em ciência e inovação, o professor Luis Fernandes, da UFRJ e PUC-Rio, reforça a relevância de todas as mesas de debate do bicentenário da independência como questões cruciais que refletem os obstáculos para que o país alcance a autossuficiência tecnológica.
A ciência e a tecnologia estão cada vez mais no coração dos processos de geração de riqueza e de valor em todos os campos. É um elemento central para promover o desenvolvimento do Brasil no próximo século como país soberano e independente
No dia 20 de setembro foram realizadas as mesas “Desafios da Soberania Energética”, “Desafios da Soberania Alimentar” e “Desafios da Soberania Sanitária”. No dia 21, o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ promoveu, além da mesa sobre desafios da soberania tecnológica, debates sobre “Desafios para a Soberania Territorial” e “Desafios para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia”.
Os debates estão disponíveis na íntegra no canal do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no Youtube.