“A cultura serve para as pessoas dialogarem”


George Yúdice é nome de destaque quando o assunto é cultura latino-americana. De passagem pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, o professor da Universidade de Miami falou sobre mapeamento cultural, responsabilidade social e os trabalhos realizados por meio do projeto Miami Observatory on…

A cultura serve para as pessoas dialogarem

George Yúdice é nome de destaque quando o assunto é cultura latino-americana. De passagem pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, o professor da Universidade de Miami falou sobre mapeamento cultural, responsabilidade social e os trabalhos realizados por meio do projeto Miami Observatory on Communication and Creative Industries .

“Miami é dinâmica para as artes”, defendeu Yúdice. Essa é a justificativa para a realização do Miami Digital Cartography for Cross-Cultural Communication and Development, uma plataforma interativa e online, que mapeia a diversidade artística e cultural da cidade. A iniciativa colabora com o turismo e economia locais, ao traçar um verdadeiro circuito de atividades, que pode ser acessado na palma da mão, pelo celular. Além disso, ajuda a disseminar a cultura “underground”, menos conhecida, mas de grande importância.

A cultura latino-americana sempre é muito presente nos Estados Unidos, sua influência é crescente e, por isso, não deve ser ignorada. Sendo assim, além da cartografia digital promovida em Miami e também em Nova Iorque, o observatório conta com projetos de mapeamento da atividade artística latina no país. Um exemplo disso é o Cuban Theater Digital Archive , que usa tecnologia para gerar reflexão intelectual.

A indústria musical em crise (?)

Diz-se que a indústria da música está em crise, mas a verdade é que o mercado está passando por uma série de rápidas transformações e a música digital, do modelo 2.0, ganhou espaço. CDs e DVDs não são mais fonte de lucros.

“As gravadoras nunca trabalham para a pequena música”, afirmou Yúdice. Enquanto apenas 3,8% da cota de mercado global de entretenimento é latino-americana, percebe-se um contraponto a isso: não existe interesse, por parte das grandes marcas, em alterar esse panorama. Em países pequenos como o Uruguai, nota-se que há uma variedade muito maior de selos e produções independentes. Foi pensando nisso que Yúdice voltou suas pesquisas para a música ao vivo local, ao invés de estudar os grandes nomes.

O pesquisador defendeu a busca por novas alternativas de produção artística e a chamada cultura paralela. Festivais como o Grito Rock , do circuito Fora do Eixo, buscam “desenterrar” a atividade cultural esquecida ou que jamais foi vista, trazendo à tona grandes revelações musicais e as fazendo circular por toda a América Latina. Os circuitos Fora do Eixo possuem tecnologia administrativa própria, economia solidária, de troca, e de mobilização. Neste sentido, Yúdice os define como “jovens utópicos pragmáticos.”

De expectador a usuário de arte

“A gestão também é uma forma de criatividade,” afirmou Yúdice. Segundo o pesquisador, esta é sempre bem sucedida ao relacionar vida e arte e em despertar o lado social da cultura. Buscar alternativas à produção cultural faz com quem o expectador abandone o caráter passivo de recepção da arte e passe a ser usuário da mesma.  Usar a arte é pensá-la de forma em que todo seu potencial social, econômico e cultural seja aproveitado.

GABRIELA CUNHA
Estagiária de Jornalismo do FCC/UFRJ

Edição: Zilda Martins

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