Discutindo a outra versão da história


Luiz Eduardo Soares foto: Bira Soares Nas últimas semanas, salas de cinema do Brasil inteiro viram-se abarrotadas por espectadores ansiosos pela estreia do filme Tropa de Elite II, que já se posiciona como a segunda maior bilheteria do cinema nacional. Mas pouca gente sabe que…

Nas últimas semanas, salas de cinema do Brasil inteiro viram-se abarrotadas por espectadores ansiosos pela estreia do filme Tropa de Elite II, que já se posiciona como a segunda maior bilheteria do cinema nacional. Mas pouca gente sabe que a história contada pelo diretor José Padilha, além de inspirada na realidade, também teve como base o livro Elite da Tropa, escrito pelo antropólogo e ex-coordenador de segurança do Rio de Janeiro, Luiz Eduardo Soares.

O escritor lança agora o livro Elite da Tropa II. Soares esteve no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no dia 04 de novembro, para um debate que, assim como as salas de cinema, lotou o Salão Dourado com estudantes, professores e curiosos.

Para discutir a obra, estavam presentes a coordenadora do curso de Jornalismo da ECO/UFRJ, Cristiane Costa; o professor de Teoria Política da UFF, Renato Lessa; e o professor de Filosofia do Direito da UFRJ, José Eizenberg. A surpresa do debate não foi a discussão da violência, mas principalmente os recursos literários utilizados na narrativa.

http://www.forum.ufrj.br/materias/041110_2.jpgLogo de início, Soares confessa ao público a hesitação que antecedeu à produção do livro que dá continuidade à história de Elite da Tropa. O escritor não pretendia simplesmente atender a uma exigência mercadológica já esperada depois do sucesso da primeira edição, alavancada pelo filme. Segundo o autor, o maior temor era cair na redundância, no clichê e na fórmula. Para escrever A Elite da Tropa II teria de haver a inauguração de uma ideia e a possibilidade de ousar diante de um tema tão explorado na edição anterior.

http://www.forum.ufrj.br/materias/041110_3.jpgE o encontro com a ousadia aconteceu. O segundo livro toca na questão das milícias e permite ir mais fundo em toda problemática que envolve os morros cariocas. Soares ressaltou que a obra se trata de uma trilogia iniciada com Cabeça de Porco, de 2002, tratando de jovens envolvidos com o tráfico de drogas nas favelas.

Na visão do autor, a importância do tema desenvolvido nos dois livros é mostrar o universo moral e ético dos policiais, que desafiam os princípios e as leis, revelando a reflexão sobre a nossa própria relação com o valor diante das contradições sociais.

A discussão seguiu com análise dos professores. Cristiane Costa levantou a pergunta sobre o estilo literário da obra, que organiza uma história a partir da realidade. Ficção ou não-ficção? A resposta veio na definição: inclassificável. Segundo Cristiane, e com a confirmação do autor, a narrativa trabalha com as fronteiras, incorporando a diversidade de vozes e gêneros.De acordo com o professor Eizenberg, ainda sobre a questão dos estilos, uma das forças da narrativa está nessa tensão sobre o lugar que o livro ocupa no limiar entre a ficção e documentário, que também encontra-se nos dois filmes produzidos pelo diretor José Padilha.

Renato Lessa também destacou outra força da narração literária de Soares. Segundo o professor, o discurso em primeira pessoa que foi desenvolvido favoreceu a capacidade empática que captura os leitores e promove a racionalização posterior. Indo mais além, Lessa acredita que a obra contribuí socialmente na forma de um intelectual público.

O debate terminou com as questões do público, que disputou o microfone para fazer perguntas ao autor. Em grande parte, as colocações da platéia vinham questionar os pontos de encontro entre Elite da Tropa e Tropa de Elite. Soares esclareceu que o filme estabeleceu um diálogo com o livro e não houve o comprometimento da repetição da narrativa literária no cinema.

ANA BEATRIZ PESSANHA
Estagiária de Jornalismo FCC/UFRJ

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