Entrevista com Ivan Sugahara
Performance provoca reflexões sobre o amor contemporâneo Ivan Sugahara é formado em Teoria do Teatro pela Unirio. Considerado um dos diretores mais requisitados da atualidade, trabalhou até 2008 na companhia Os dezequilibrados, dentre outros; com os espetáculos Dilacerado (indicado ao Prêmio Qualidade Brasil de Melhor…
Ivan Sugahara é formado em Teoria do Teatro pela Unirio. Considerado um dos diretores mais requisitados da atualidade, trabalhou até 2008 na companhia Os dezequilibrados, dentre outros; com os espetáculos Dilacerado(indicado ao Prêmio Qualidade Brasil de Melhor Diretor) e Vida, o filme (indicado ao Prêmio Shell de Melhor Diretor). No ano passado, foi responsável pela direção dos comentados Terra do nunca(apresentado na Mostra Internacional de Teatro de Oeiras, em Portugal); Blitz (de Bosco Brasil) e Sade em Sodoma (de Flavio Braga). Nesse momento, ele trabalha no espetáculo Somos românticos-punks, pierrôs-pós-utópicos!
JÚLIA RICCIARDI
Estagiária de Jornalismo do FCC/UFRJ
1. FCC – Como será o espetáculo performático desenvolvido por sua equipe para o ArteForum? É um trabalho inédito?
IS – É um trabalho inédito, com três atrizes – Ana Abbott, Elisa Pinheiro e Laila Garin – e participação especialíssima da dupla funk Perebah & Jair. A temática gira em torno do amor contemporâneo, utilizando textos de alguns autores, a maioria do Arnaldo Jabor. O título da performance, Somos românticos-punks, pierrôs-pós-utópicos!, foi extraído de uma crônica dele que estamos usando.
2. FCC – Seu trabalho de direção é marcado pelo uso de espaços inusitados para as encenações. Como você pretende usar o espaço do Palácio Universitário?
IS – A performance vai acontecer no Teatro de Arena do campus da Praia Vermelha. O local foi escolhido pela Angela Leite Lopes, responsável pela curadoria das performances, em conjunto com a coordenação do evento. A princípio, íamos fazer um trabalho só com uma atriz, mas depois de revisitar o local (curiosamente estudei durante um ano na faculdade de Economia, mas há muito não ia lá), fiquei com vontade de chamar outras pessoas para ocuparmos melhor o espaço. De fato, a utilização de lugares não convencionais é algo que me atrai muito, acho que gera grandes possibilidades cênicas, além de novas formas de relação com o público. No caso da performance, nossa ideia é colocar o público no centro do teatro e fazer uma espécie de arena invertida, com a ação acontecendo ao redor dos espectadores, pelos corredores e janelas dos dois andares do prédio.
3. FCC – Qual a diferença em preparar espetáculos para um espaço privado e outro para uma universidade pública, gratuita e aberta a todos os públicos?
IS – Ao comparar essa performance com os meus espetáculos, a diferença está menos na natureza privada ou pública do espaço de apresentação e mais em outras questões. Por exemplo, o simples fato de que a performance está sendo feita para uma única apresentação, enquanto que um espetáculo é preparado para ficar em cartaz durante um tempo.
4. FCC – Apesar de ser de natureza etérea, a performance tem um poder de ruptura, provoca desdobramentos, faz provocações. Que desdobramentos você acha que o trabalho desenvolvido noArteForum pode gerar para além de sua apresentação?
IS – A discussão que procuramos travar sobre o amor contemporâneo pode ser bastante provocadora. A tentativa é falar sobre algo que sentimos, que captamos, como o espírito amoroso desse nosso tempo, com suas promessas de liberdade e seus enganos. Adoraria que gerasse uma reflexão do público sobre o assunto. Mas a performance também pode acessar as pessoas pelo sensorial, pelas músicas que serão um elemento estrutural do trabalho, assim como as projeções e a iluminação. Enfim, a ideia é trazer o público para dentro da performance pra que possa vivenciá-la junto com a gente, daí colocá-lo no centro do espaço.
5. FCC – Quais foram seus principais espetáculos que, como o desenvolvido para o ArteForum, utilizaram os espaços de forma incomum?
IS – Os principais espetáculos foram a montagem de Bonitinha, mas ordinária, na Casa da Matriz; Vida, o filme, no Espaço Unibanco de Cinema; e Memória afetiva de um amor esquecido, no Oi Futuro. Ao fazermos esse tipo de trabalho, tentamos nos relacionar com o espaço de duas formas: a arquitetura e a história. Nesse sentido, o espaço físico de todos esses locais foi extremamente explorado – utilizávamos, por exemplo, oito cômodos da Casa da Matriz (banheiro, bar, lounge, pista de dança, sala de videogame, etc) e, no caso do Memória afetiva…, a peça circulava pelos oito andares do prédio, fazendo um amplo uso das suas instalações futurísticas – escadas de vidro, elevador panorâmico, projetores de vídeo, computadores, portas automáticas, etc. Quanto ao outro aspecto, a montagem de Bonitinha… dialogava com o ambiente festivo da Casa da Matriz. O espetáculo tinha um quê muito forte de celebração. Já um espaço de cinema era perfeito para o Vida, o filme que tematizava justamente a influência que o cinema tem em nossas vidas. Enfim, esses são os pontos de partida que costumamos adotar nessa pesquisa de espaços e é desta forma que estamos nos aproximando do prédio da UFRJ para a criação da performance.