Entrevista com Luiza Crosman

A fotografia como “recorte de instante e uma secção do infinito” Luiza Crosman é formada em Design
pela PUC/Rio. É artista visual e, desde 2007, cursa
a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Além
disso, estuda pintura, gravura e teoria.. Menos é mais no…

 

Luiza Crosman é formada em Design pela PUC/Rio. É artista visual e, desde 2007, cursa a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Além disso, estuda pintura, gravura e teoria.. Menos é mais no trabalho da artista Luiza Crosman. Uma câmera analógica simples, sem muitos botões e controles de função, foi o bastante para que ela – que também é jovem curadora do núcleo Transcinema – operasse os verdadeiros milagres fotográficos que irão compor a instalação “Quem desliza é o espaço para o corpo que vem”, no ArteForum. Crosman apresentará um trabalho ainda inédito, que se relacionará diretamente com as janelas do Salão Pedro Calmon. O conceito de Transcinema nessa instalação ganhará forma a partir de fotografias, montadas e formadas a fim de sugerir movimento.

GABRIELA CUNHA
Estagiária de Jornalismo do FCC/UFRJ

Qual é a sua relação com a fotografia e como ela começou?

Possuo uma câmera analógica de plástico sem muitos controles. Ela não possui foco, ou zoom, muito menos controle do diafragma ou obturador. Seu único recurso é dividir o frame da imagem ao meio, possibilitando duas imagens se fundirem em uma. Comecei a fotografar constantemente uma vez que adquiri essa câmera, pois ela cria a situação com a qual gosto de trabalhar: fotografia como um recorte de instante e uma secção do infinito. Onde eu não tenho controle sobre a regulagem da imagem e esta pode sofrer interferências ao acaso. Ao mesmo tempo, eu posso criar narrativas ao fotografar dois momentos distintos e os unir num mesmo frame de imagem, trazendo a questão da temporalidade para dentro da imagem, e posso unir várias fotografias de diversos momentos para criar um trabalho único. Dessa forma, no meu trabalho, a fotografia não é um fim e sim o começo.

 

Como sua arte se relaciona com o conceito de Transcinema?
“Quem desliza é o espaço para o corpo que vem” trata do espaço a partir da percepção de quem o caminha, a partir de momentos apreendidos de um espaço que está sendo traçado; a relação sensorial do corpo com o caminho pelo qual anda.
Meu trabalho se relaciona com o conceito do Transcinema principalmente por suas tentativas de construção de um entendimento do espaço e do tempo e, embora a maior parte dos trabalhos seja feita a partir de fotografias, ou seja, momentos estáticos, a sua montagem e formação final prevêem e sugerem o movimento, tanto espacial quanto temporal.

Qual o papel das janelas do Salão Pedro Calmon na apresentação?
Ao visitar o salão Pedro Calmon, notei que as janelas abriam para um pátio com árvores e que eu poderia explorar justamente essa ideia de abertura. A imagem do meu trabalho totaliza-se em um campo verde, que termina em uma perspectiva no limite. Assim, ao montar o conjunto, terminando logo depois do peitoril da janela, o que acontece é que a minha imagem ganha a continuidade do espaço real. É interessante, pois o trabalho parte da relação corporal/espacial de forma imagética e finaliza no espectador, podendo realmente experienciar essa relação com o espaço ao seu redor.

Como se dará essa relação com o exterior?
O trabalho não interfere no exterior e sim coloca esse exterior e a nossa relação com ele, em evidência.

Você montou esse trabalho para o ArteForum. Pretende continuar com ele após o evento, em outras exposições?
Já era um trabalho que eu queria montar, já tinha o projeto dele, então aproveitei a oportunidade e nosso guia curatorial “desfazer/refazer”, [então decidi] mostrá-lo no ArteForum. Fiz alguns ajustes no projeto para o trabalho se relacionar com o espaço frente à janela do Salão Pedro Calmon. Mas, como a instalação é montada em módulos, ela prevê outras possibilidades de montagem, não só a que eu vou mostrar no ArteForum. Ou seja, ela pode se relacionar com outros espaços, outras exposições. Ao mesmo tempo em que o trabalho é independente na sua forma, ele também pode vir a se modelar aos espaços.

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