Insegurança alimentar preocupa especialistas

Desigualdades, influência de empresas e interdependência são alguns dos gargalos para solução do problema

Um dos países mais competitivos do mundo na produção de alimentos, o Brasil ainda possui grande parte da sua população passando fome ou com dificuldades de realizar três refeições diárias. As discussões em torno de como explorar as riquezas nacionais para gerar segurança alimentar à população, além de garantir o desenvolvimento agrícola, foram abordadas na mesa “Desafios da Soberania Alimentar”, que ocorreu no dia 20 de setembro, durante o evento “Bicentenário da Independência e os rumos do Brasil”, realizado pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.

Mediado pela professora do Instituto de Alimentação e Nutrição da UFRJ, Rute Costa, participaram do debate os painelistas Renato Maluf, professor de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e ex-presidente do Conselho Nacional Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Tereza Campelo, pesquisadora da Fiocruz e ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Kelli Mafort, coordenadora nacional do Movimento Sem Terra (MST).

Historicamente, os países lidaram de forma diferente com a questão. O professor Renato Maluf (CDPA/UFRRJ) lembrou que é crucial compreender a evolução dos conceitos inerentes ao debate:

Os Estados recorreram mais propriamente à noção de segurança alimentar, e não de soberania, com foco na autossuficiência sempre que possível, enquanto a premissa da soberania era o poder de adotar políticas nacionais, mesmo que estabelecendo restrições ao comércio internacional

Para Maluf, a grande contradição está no fato de que, apesar do potencial agropecuário do Brasil, o país ainda sofre com instabilidade alimentar. “Um dos principais países produtores e exportadores do mundo não consegue eliminar a fome”, diz.

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Especialistas afirmam que problemas sociais e econômicos são barreiras que devem ser superadas | Foto: Reprodução

 

Medidas emergenciais são necessárias

A complexidade do sistema alimentar também deve levar em conta o domínio e a influência das empresas do setor agroalimentares. A crítica à concentração de produtores foi pautada pela integrante da coordenação nacional do MST, Kelli Mafort. Para a especialista, um pequeno conjunto de grandes empresas coordena o sistema comercial e diminui a competitividade do setor.

Nós temos uma agricultura hegemonizada pelo agronegócio que não produz alimentos, e sim produtos para exportação de commodities, explorando as terras e a natureza como ativos produtivos e financeiros. 1% de fazendeiros controlam mais de 50% das terras. A soberania alimentar é o direito dos povos à alimentação saudável e diversa, bom acesso à terra, à água e demais bens naturais e com autonomia sobre seus territórios

Eventos como a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia evidenciaram a dependência do Brasil, principalmente na importação de fertilizante para sustentar a produção agrícola. Essa correlação, na visão de Tereza Campelo, pesquisadora da Fiocruz e ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, mostra que é preciso avançar para mudar esse cenário.

Percebemos que o Brasil não é autossuficiente do ponto do de vista alimentar, ou corre um conjunto de riscos e ameaças. A questão da segurança alimentar ganhou o debate público e não falamos somente de fome. Talvez pela primeira estejamos vivendo o debate sobre soberania alimentar

Ainda no dia 20, foram realizados debates sobre os desafios da soberania energética e da soberania sanitária. Esses e outros encontros realizados no evento podem ser acessados no canal do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no Youtube.

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