O encontro da literatura com o mundo virtual

Os livros na estante e o barulho das páginas se revirando já parece ser coisa do passado quando se fala em literatura contemporânea. Agora os versos e prosas andam espalhados pelos mais deferentes instrumentoshigh-tech. Pensando nisso, o Arte Fórum reservou um espaço para as novidades que vêm sendo experimentadas no campo literário. O evento será realizado no Palácio Universitário, nos dias 4 e 5 de junho.

Entre workshops e saraus digitais, as letras antes confinadas ao papel vão encontrar-se com imagem, som, corpo e tecnologia. “Se ainda podemos usar essa palavra, o Arte Fórum é um evento de vanguarda, vai apresentar pesquisas de ponta, vamos unir tecnologia e presença”. Quem afirma é a coordenadora do curso de Jornalismo da UFRJ e curadora do Núcleo de Literatura Digital do Arte Fórum, Cristiane Costa.

Essa união apontada pela professora é o que vai acontecer no sarau de avatares e heterônimos, quando autores e atores vão se alternar declamando poemas e contos de uma maneira nada convencional. Num intercâmbio entre teatro e software eles vão contracenar com seus alteregos digitais projetados na tela.

Costa argumenta que mais do que um diálogo com as novas tecnologias, a literatura contemporânea conversa com todos os estilos de arte, ampliando as possibilidades da narrativa. Na oficina de mash-up e remix literário, ministrada pelo professor e pesquisador Leonardo Villa-Forte, os participantes poderão reconstruir as práticas de criação a partir da contaminação entre leitura e internet, texto e novas mídias. Assim como o remix dos DJs, a oficina propõe a reconfiguração da experiência literária através de diversas referências artísticas, principalmente no universo digital. Para saber mais sobre esse trabalho de Villa-Forte é só acessar o site: http://mixlit.wordpress.com/

O fenômeno atual dos games também não vai ficar de fora do evento. No Gamera Workshow será feito um coletivo para a criação de narrativas para jogos. A oficina ministrada pelos professores Arthur Protásio e Guilherme Xavier vai dirigir a produção de uma história para game, desenvolvendo os instrumentos lúdicos e técnicos para a proposta. Ao término do curso será apresentado ao público o resultado final do trabalho dos participantes.

E as oficinas não param por aí.  As histórias em quadrinhos e os folhetins também vão ser temas para discussão e experimentação. O escritor e doutor em Artes Visuais, Otávio Aragão é quem vai comandar a oficina narrativa para HQ, quando serão produzidas uma série de cinco sequências de HQs de três quadros, desenhados ao vivo pelo quadrinista durante a apresentação.

Enquanto isso, no workshop de criação literária, a escritora Ana Paula Maia fará uma introdução à história do folhetim e às práticas de construção narrativa na Internet. Os alunos produzirão coletivamente uma história que será publicada na web em pequenos capítulos em série.

O evento guarda ainda a apresentação do novo projeto do poeta Alberto Pucheu “Paisagens urbanas quase sem paisagens”. Nesse trabalho, as artes visuais e a poesia se interceptam, motivadas pelo tema da metrópole e suas possibilidades poéticas, muito explorado na obra de Pucheu.

Serão colocadas em exposição, fotografias de frases encontradas em paredes e muros das ruas de cidades como Rio de Janeiro, São Luís e Lisboa. As imagens são achados em meio às ruínas e ao caos urbano, que reconfiguram e dão novas dimensões ao espaço da cidade, mostrando que a literatura pode se instalar muito longe dos livros.

E para fechar o evento em grande estilo, acontecerá a palestra do professor britânico Richard Colson. O artista plástico é graduado em Belas Artes (licenciatura) pela Goldsmiths College em Londres e tem suas obras espalhas por importantes galerias do Reino Unido. No Arte Fórum, ele ministrará um workshop e uma palestra sobre os fundamentos da arte digital.

Com tantas opções vai ser impossível sair do encontro no Fórum sem experimentar uma nova forma de enxergar a literatura e para além do olhar, ouvir, tocar e sentir a multiplicidade de universos que pode guardar a tão fundamental palavra.

ANA BEATRIZ PESSANHA
Estagiária de Jornalismo do FCC/UFRJ

Edição: Zilda Martins