“Uma fonte de luz em um momento de tanta escuridão”
“Uma fonte de luz em um momento de tanta escuridão”. É assim que Amir Haddad quer ser lembrado no dia em que foi homenageado pela UFRJ com o título de Doutor Honoris Causa. A solenidade aconteceu em 20/03, no salão Pedro Calmon, no Campus da Praia Vermelha e reuniu cerca de 200 pessoas entre familiares, amigos e admiradores de um dos principais teatrólogos do Brasil.
“Uma fonte de luz em um momento de tanta escuridão”. É assim que Amir Haddad quer ser lembrado no dia em que foi homenageado pela UFRJ com o título de Doutor Honoris Causa. A solenidade aconteceu em 20/03, no salão Pedro Calmon, no Campus da Praia Vermelha e reuniu cerca de 200 pessoas entre familiares, amigos e admiradores de um dos principais teatrólogos do Brasil. Com participação do Grupo Tá na Rua e homenagens de amigos e personalidades do teatro, a cerimônia foi marcada pelo bom humor e alegria, característicos da personalidade e trajetória de Amir Haddad.
O título de Doutor Honoris Causa é a mais alta honraria da Universidade, concedida a personalidades pela relevância de suas obras para o país. A indicação de Haddad foi feita pelo coordenador do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, Prof. Carlos Vainer, levando em conta o importante trabalho de Haddad no campo das artes cênicas, como ator, diretor, dramaturgo e professor.
“Estou emocionado por estar recebendo um título da Universidade Federal do Rio de Janeiro”, afirmou. Com entusiasmo marcante, Amir declamou versos e cantou trechos do samba-enredo feito em sua homenagem.
Brincou, mas também demonstrou preocupação com o contexto de ameaças ao ensino público brasileiro: “Ao mesmo tempo em que eu estou aqui recebendo essa homenagem enorme, eu gostaria muito que ela servisse para fortalecer a universidade. Um momento tão difícil da vida brasileira, em que principalmente as nossas instituições de ensino público vem sendo atacadas, ameaçadas, provocando enorme preocupação em cada um de nós brasileiros, com a educação pública nesse país”, disse.
Sem perder o bom humor, Amir lembrou momentos de dificuldade, aprendizado e reconhecimento, chamando atenção especial para o papel da educação pública de qualidade na construção de um país mais justo. “Só estudei em escola pública, jamais tive que pagar para saber o que sei ou ser o que sou. Escola que me preparou e instrumentalizou para tudo o que viria depois. Senhoras e senhores, salve a escola pública!”
Em entrevista exclusiva, Amir reforçou o desejo de marcar a solenidade como gesto de apoio coletivo, “meu e de todas as pessoas que virão aqui assistir a esta cerimônia, apoio à Universidade, a seu esforço de sobrevivência, de permanência, de luta, contra as forças do obscurantismo, que cada vez mais ensombrecem nossos horizontes. Eu queria ser uma fonte de luz em um momento de tanta escuridão”.
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Homenagens
Uma das sessões mais especiais e memoráveis do Conselho Universitário (Consuni), a solenidade foi classificada como “grande festa da arte” por Carlos Vainer.
“Normalmente, quando uma homenagem é feita, o beneficiário é o homenageado. Em um caso como este, é a Universidade que é o beneficiário e quem se enriquece com isso. Nós é que temos que agradecer a Amir por aceitar a nossa homenagem. Obrigado Amir por existir, por ser quem você é e por ter dado e continuar dando tantas aulas e uma extraordinária contribuição ao teatro, à arte, à cultura, à acessibilidade e à inteligência de nosso povo”, disse.
Para Vainer, a concepção de Arte Pública, recuperada por Amir, está entre as suas maiores contribuição para a dramaturgia. Defensor de uma arte para todos, como a plena expressão dos cidadãos da cidade, Amir defendeu e defende a ocupação dos espaços públicos, das ruas e praças com as artes de modo a construir utopias e reforçar o senso de coletividade. Parafraseando o verso do espanhol Gabriel Celaya, em que o poeta diz ser a poesia uma arma carregada de futuro, Vainer encerrou sua fala afirmando: “O teatro de Amir é uma arma carregada de futuro. Obrigado, Amir”.
Encarregada de fazer a homenagem da noite, a atriz Renata Sorrah (foto abaixo) quebrou o protocolo. Pediu a Amir que a acompanhasse até o púlpito. “Ela quer falar olhando nos meus olhos”, disse Amir sorridente. Com um discurso carinhoso, Renata destacou a genialidade do diretor para fazer e ensinar teatro. “Amir, você é meu mestre. Você me ensinou tudo”, agradeceu a atriz que foi descoberta no teatro pelo diretor.
“Doutor Honoris Causa, você é orientador, guru, benfeitor, pajé, padrinho, pai, irmão, amigo, amante. Uma luz nas nossas vidas”. E finalizou: “Ah, se todos fossem no mundo, iguais a você. Não! Não dava! Doutor Honoris Causa Amir Haddad, você é único!”.
Ao outorgar o título ao homenageado, o reitor da UFRJ, Roberto Leher, destacou o papel de Haddad como inspiração para a juventude enfrentar o presente momento. Para Leher, o teatro proposto por ele fomenta a imaginação criadora, permitindo a construção de novas perspectivas para a sociedade. “A história nunca está fechada. Sempre é possível forjar alternativas”, completou.
Em sua fala, o reitor lembrou nomes de personalidades ilustres, que receberam o título, entre elas o pedagogo Paulo Freire, o compositor Martinho da Vila, o cartunista Ziraldo e o cineasta Ruy Guerra, os três últimos recentemente. Leher celebrou o acontecimento: “A UFRJ está hoje em um momento de júbilo. Parabéns Amir. É um grande dia para a UFRJ”, concluiu.
Tá na rua e a homenagem à trajetória de Amir
Com a celebração caraterística das apresentações do Grupo Tá na Rua, a companhia encerrou a solenidade, cantando o samba enredo da GRES Unidos do Cabral que, em 2005, homenageou o diretor, contando sua trajetória com o enredo “Amir Haddad, da Lapa ao Cabral… carnavalizando o teatro, teatralizando o carnaval”.
Fazendo valer uma das mais importantes propostas artísticas de Amir, mesclando teatro e carnaval, os artistas da companhia conduziram o público em cortejo ao Teatro de Arena Carvalho Netto, próximo ao auditório onde ocorreu a solenidade. Com muita música e dança, a companhia relembrou a história de vida de Amir. Não foram poucos aqueles que deixaram seus lugares na plateia para dançar no palco, junto com os atores e com o homenageado.
Além de celebrar o teatrólogo, o grupo prestou homenagem aos antigos integrantes do Teatro Universitário Carioca (TUCA), com quem Amir trabalhou, na década de 1960, ao dirigir a peça O Coronel de Macambira, de Joaquim Cardozo. Desde o ano passado, os integrantes retomaram a parceria fundando o projeto cultural do coletivo TUCAARTE – Associação TUCA de Arte e Cultura, do qual Amir vem participando.
Ao final, o clima no Teatro de Arena era de leveza, alegria, e o sentimento compartilhado de que UFRJ e a arte brasileira tinham vivido um de seus dias de glória.
Reportagem: Bruna Rodrigues | Texto e edição: Victor Terra | Fotografia: Bira Soares e Victor Terra
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