Vestida para subverter
Subverter as formas tradicionais e convidar ao diálogo os diversos estilos artísticos são alguns dos principais sintomas da arte contemporânea. A performance, que é parte importante dessas revoluções da obra de arte atual, vem ganhando cada vez mais espaço e não foi diferente no ArteForum…
Subverter as formas tradicionais e convidar ao diálogo os diversos estilos artísticos são alguns dos principais sintomas da arte contemporânea. A performance, que é parte importante dessas revoluções da obra de arte atual, vem ganhando cada vez mais espaço e não foi diferente no ArteForum. Durante todo o evento, o Palácio Universitário deu lugar a importantes artistas da área. Foi o caso da cenógrafa e figurinista Desirée Bastos, com Cena para um figurino, que ocupou o hall do Instituto de Economia.
A performance ultrapassou os limites do momento da apresentação. Com o objetivo de colocar em questão o papel marginal do figurino na cena, Desirée instalou permanentemente um largo vestido de retalhos no hall da Faculdade de Economia. Presa a elásticos e suspensa no ambiente, sozinha, a peça poderia ser confundida com uma instalação ou uma obra de artes plásticas. Mas, às 14 horas do sábado, a atriz e performer Suzana Nascimento deu movimento ao estranho vestido de várias mangas, antes parado no espaço.
Público observa a performance. Foto: Bira Soares
O público se espalhou em torno da cena e observou o corpo dar forma ao figurino. Teatro, dança e cenografia reuniram-se na atuação, que a todo o tempo parecia confrontar a plateia com a questão: até que ponto estamos submetidos ou submetemos ao nosso controle aquilo que nos é externo? O movimento e a voz de Suzana transmitiam a angústia e agonia de estar simultaneamente presa e livre ao figurino e, de alguma maneira, à própria figura que nos vestimos a cada instante.
A inquietude da ação performática lembrou a histórica coreografia Lamentation (http://www.youtube.com/watch?v=xgf3xgbKYko) de Martha Graham, coreógrafa que revolucionou a dança moderna. Nela, a bailarina, por meio do corpo, também oferece forma a um figurino elástico que, neste caso, ganha significado a partir do movimento. Na performance de Desirée, ao contrário, a peça de roupa já carrega em si um significado, que é transformado a partir da intervenção da atriz. No entanto, as duas performances conversam, na medida em que expõem uma angústia latente ao corpo e aquilo que lhe é externo, utilizando forte teatralidade.
Para além dos limites do corpo, explorar a teatralidade do próprio Palácio Universitário foi uma das principais propostas do núcleo Performances no ArteForum, segundo a curadora Ângela Lopes. “O evento inteiro já é uma grande performance”, afirmou na sessão de abertura. E não foi por acaso que Cena para um figurino foi escolhida para compor as apresentações do evento. A performance, que também será apresentada na Quadrienal de Praga deste ano, foi o resultado da tese de mestrado de Desirée Bastos, pela EBA/UFRJ, e a prova de que teoria e prática, arte e universidade não precisam habitar universos distintos.
ANA BEATRIZ PESSANHA
Estagiária de Jornalismo do FCC/UFRJ
Edição: Zilda Martins