“Uma política de defesa da educação está ligada à capacidade de difundir o conhecimento entre diferentes segmentos da sociedade”

Na sétima entrevista da série Por Dentro do FCC, o diretor da Editora UFRJ, professor Marcelo Jacques de Moraes, fala do papel do órgão e de sua atuação dentro da universidade. “A principal missão da Editora é colocar em circulação o conhecimento produzido pela universidade”, diz Jacques. Leia a entrevista completa.

Por excelência, a universidade é um espaço de construção. Nela, o conhecimento é produzido, debatido, reformulado e avança. Nesse processo, tão importante quanto    produzir saber e ciência é poder divulgá-los, torná-los acessíveis à sociedade. É isso que faz a Editora UFRJ, órgão vinculado ao Fórum e tema da 7ª edição da Série Por Dentro do Fórum. “A principal missão da Editora é colocar em circulação o conhecimento produzido pela universidade”, explica Marcelo Jacques de Moraes, diretor do órgão.

Criada em 1986 como unidade vinculada ao Fórum de Ciência e Cultura (FCC), a Editora UFRJ é responsável pela publicação impressa e em mídia eletrônica de obras de valor científico, técnico, cultural, artístico, literário e didático, produzidas por pesquisadores e professores de dentro e fora da UFRJ. Sediada no Campus da Praia Vermelha, atualmente a Editora é formada por uma equipe de cerca de 30 profissionais. Além do site, o órgão possui duas livrarias físicas: uma localizada no Palácio Universitário e outra, a mais recente, inaugurada em 2014, no campus da Praia Vermelha, na rua Lauro Müller, ao lado do Shopping Rio Sul. 

Nesta entrevista, Marcelo Jacques de Moraes fala sobre o papel da Editora, as transformações no campo editorial, a vocação interdisciplinar e o compromisso do órgão com um projeto de defesa da educação pública.  

Confira trechos da entrevista no vídeo e a íntegra no texto abaixo: 

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Muitas pessoas não conhecem a Editora UFRJ. Poderia explicar a principal função do órgão? 
A missão da editora é  colocar em circulação o conhecimento produzido pela universidade. A editora vem cumprindo essa missão há mais de 30 anos, mas talvez não com o alcance que poderia ter. Ela não é do tamanho da UFRJ: é uma percepção generalizada da comunidade. Não se conta tanto com a editora, não se sabe, não se conhece o trabalho da editora na própria universidade. 

O volume da produção não é proporcional ao volume de conhecimento que se produz na universidade. Ao mesmo tempo o alcance é pequeno. É uma editora universitária de uma universidade pública e há a dificuldade da comercialização. Acho que esse sempre foi o desafio e que se torna tanto maior na medida em que vai mudando também o modo de circulação do livro e do conhecimento, além da dificuldade que a gente tem, enquanto empresa pública, de modernizar os meios de produção. 

Como tem sido o processo de produção das publicações?
Para além de algumas iniciativas das sucessivas direções, temos trabalhado sobretudo com demanda espontânea. Então, os livros vão chegando, sendo avaliados e sendo aceitos ou não, através de pareceres dados por pesquisadores da área em questão. Mas acho que é um momento de trabalharmos de maneira mais indutora, talvez com editais. Isso já faz parte um pouco de uma reflexão que estamos fazendo, no sentido de trabalhar de maneira mais dirigida. Por outro lado, há obras e coleções possíveis de serem reeditadas, e esse levantamento já começou a ser feito. O catálogo tem pérolas esgotadas e inacessíveis.

Um dos desafios é que ainda encontramos muita resistência, da parte da sociedade como um todo e dos produtores de conhecimento, em relação ao livro digital, online. Uma de nossas ideias é abrir o catálogo online, por exemplo. Estamos pensando modos de recolocar nosso acervo em circulação. E produzir livros novos, é claro. Hoje, o custo da impressão é caro e, além disso, tem o custo do estoque, da distribuição. Tudo isso tem um ônus. 

Em determinadas áreas do conhecimento a velocidade é decisiva. Dependendo do tema, se você não publica o livro ali, no calor da hora, ele vai perdendo o sentido – do ponto de vista da conjuntura. Essa também é uma questão: poder colocar mais rapidamente os livros em circulação. 

Outro grande desafio é a impressão sob demanda. A gente acaba trabalhando quase no piloto automático com tiragens impressas  de 500, 1.000 exemplares, que não tem muito sentido você estocar durante dois, três anos. São alguns dos desafios que temos que enfrentar. 

Em um momento de ataque às instituições públicas de educação, qual é a importância da Universidade contar com sua própria editora? 
Um dos fatores decisivos nos ataques às instituições públicas de educação e à ciência de um modo geral é a disseminação ininterrupta da desinformação, seu uso para fins de manipulação da opinião pública. Os fatos são manipulados com interpretações equívocas, tratando-as como se fosse questão de opinião e de ponto de vista individual. Colocam-se o tempo todo em dúvida, por todos os meios, não apenas os saberes constituídos, mas quem que os produz e quem os transmite, os pesquisadores, os cientistas e os professores.

Nesse sentido, creio que uma editora universitária deve, hoje, particularmente, estimular bastante os trabalhos de divulgação científica voltados para a sociedade em geral, e muito especialmente para os jovens e para os professores do ensino médio e do ensino fundamental. Produzir livros de baixo custo, quando não abertos, disponíveis online. 

Vocação interdisciplinar 
Esta abertura é também, aliás, uma de nossas preocupações. Já estamos pesquisando, neste início de gestão, o acervo da editora, de livros em catálogo e esgotados, visando a entrar em contato com os autores para torná-los disponíveis o mais rapidamente possível. 

Um outro aspecto fundamental é estimular a capacidade de comunicação da comunidade universitária com a sociedade no sentido de uma análise conjuntural, de uma análise dos problemas mais imediatos que o país atravessa. Por isso é preciso, antes de mais nada, agilizar o processo de publicação, seja por meio físico, seja por meio digital. Nesse sentido, também estamos pensando na publicação (em meio digital, a princípio) de uma revista que possa veicular os debates, de forte cunho interdisciplinar, que ocorrem nos demais órgãos que integram o Fórum de Ciência e Cultura, o Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE), a Universidade da Cidadania (UC), a Casa da Ciência e o Núcleo de Rádio e TV (NRTV).

Vínculo com o Fórum 
Não é à toa que a Editora está no Fórum. Ela tem a missão de difundir e veicular a produção do conhecimento na universidade para a sociedade como um todo. Ela tem essa função multidisciplinar. A UFRJ é a maior universidade federal do país, e tem inúmeras áreas de ponta nas ciências exatas, humanas, biológicas. Há uma produção de conhecimento imensa. 

Em suma, uma política mais eficaz no sentido da defesa da educação está ligada à promoção do acesso amplo ao conhecimento, à capacidade de difundi-lo entre diferentes segmentos da sociedade. Creio que a responsabilidade maior de uma editora universitária, especialmente de uma universidade pública, passa hoje mais do que nunca por uma política editorial extensiva. Do ponto de vista do conteúdo e do acesso.

Trajetória 
Convidado para assumir a direção da Editora até 2021, Marcelo Jacques de Moraes tem sua trajetória marcada pela atuação no campo editorial, da pesquisa científica e da tradução. Graduado em Psicologia pela UERJ, Jacques tornou-se mestre e doutor em Literatura Francesa pela UFRJ, onde, ainda no doutorado, ingressou também como professor na Faculdade de Letras. Logo em seguida, tornou-se coordenador do programa de pós-graduação em Letras Neolatinas e editor da revista Alea: Estudos Neolatinos, projeto que coordena até hoje. Além disso, realizou pesquisas e trabalhos de tradução na França e no Brasil. Experiências que Jacques considera decisivas para sua relação com o livro e com o ambiente editorial. “Acho que isso foi o que me habilitou a estar aqui. Gosto muito do trabalho institucional e achei que era um desafio importante, num momento importante”. 

[Por Dentro do FCC] é uma série semanal de entrevistas que apresenta o Fórum e seus órgãos suplementares à comunidade universitária e à sociedade. Nelas, os participantes discutem os projetos e as expectativas de cada órgão para os próximos quatro anos de gestão.

[Por Dentro do FCC] #1 Fórum de Ciência e Cultura, com Tatiana Roque

[Por Dentro do FCC] #2 Superintendência de Difusão Cultural, com Adriana Schneider

[Por Dentro do FCC] #3 Museu Nacional, com Alexander Kellner

[Por Dentro do FCC] #4 Simap, com Claudia Carvalho

[Por Dentro do FCC] #5 SiBI, com Paula Mello

[Por Dentro do FCC] #6 Universidade da Cidadania, com Jeferson Salazar


Reportagem: Victor Terra 
Fotografia: Eneraldo Carneiro
Operação de câmera e edição de vídeo: Theo Andrada e Yuri Aby Haçan


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