“Quando temos essa troca entre academia e grupos populares, todos saem ganhando”

Historicamente as universidades se apresentam como lugares de produção, discussão e reelaboração do conhecimento. Com a UFRJ não é diferente. E ainda que cumpra com esse papel, a universidade por vezes se distancia de sua função integradora, de aproximar academia e sociedade civil e conectar saberes científicos e populares. É justamente essa a intenção da Universidade da Cidadania (UC): levar para fora da universidade o conhecimento produzido por ela e trazer para dentro o conhecimento popular. “A Universidade da Cidadania busca fazer uma articulação entre diversos atores de forma que um potencialize o trabalho do outro”, explica Jeferson Salazar, vice-diretor do órgão. 

Historicamente as universidades se apresentam como lugares de produção, discussão e reelaboração do conhecimento. Com a UFRJ não é diferente. E ainda que cumpra com esse papel, a universidade por vezes se distancia de sua função integradora, de aproximar academia e sociedade civil e conectar saberes científicos e populares. É justamente essa a intenção da Universidade da Cidadania (UC): levar para fora da universidade o conhecimento produzido por ela e trazer para dentro o conhecimento popular. “A Universidade da Cidadania busca fazer uma articulação entre diversos atores de forma que um potencialize o trabalho do outro”, explica Jeferson Salazar, vice-diretor do órgão. 

Criada em 2013, a UC foi institucionalizada em junho de 2018 como um dos órgãos suplementares do Fórum de Ciência e Cultura e atualmente conta com a vinculação de 46 entidades de naturezas variadas: movimentos sociais, sindicatos, organizações não governamentais (ONGs), laboratórios e grupos de pesquisa. 

Ao se associarem à UC, os grupos e organizações têm a oportunidade de dialogar, trocar experiências, conhecimento e construir projetos em parceria. Para isso, a Universidade da Cidadania promove encontros, colóquios, conferências, seminários e outros eventos nacionais e internacionais, voltados ao debate de questões e temas variados, sempre levando em conta a aproximação entre o conhecimento técnico-científico e o popular. Além disso, a UC oferece cursos de formação e capacitação para setores tradicionalmente excluídos da rede formal de educação. A tentativa é de democratizar a universidade brasileira, com aulas e atividades em formatos novos, presenciais e à distância, com durações e temas variados, para um público marcadamente diversificado. 

É o caso do curso “Cidades, Políticas Urbanas e Movimentos Sociais”, que é ao mesmo tempo de extensão e especialização. Promovido em parceria com o Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza (ETTERN) do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ), o projeto conta com alunos ligados tanto a movimentos sociais e populares, quanto pesquisadores e alunos de pós-graduação – grupo que tem em comum o objetivo de discutir e atuar com os direitos humanos junto à cidade. “Ao juntar extensão com especialização, nós estamos dando uma oportunidade para que esses diversos grupos sociais se encontrem exatamente no local de produção do conhecimento que é a Universidade”, explica Salazar. 

Na sexta entrevista da série Por Dentro do FCC, o vice-diretor fala sobre a vocação integradora da Universidade da Cidadania, o valor do conhecimento popular e os desafios para a manutenção do projeto considerando a conjuntura atual do Brasil.  

Assista à entrevista completa: 

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O que é a Universidade da Cidadania? 

A Universidade da Cidadania (UC) basicamente nasceu no Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e tem a função de fazer a articulação entre a produção acadêmica e o conhecimento popular. Esse é o principal foco: levar para além da universidade o conhecimento produzido por ela. [Promover] essa troca com os movimentos populares, entidades sindicais, organizações não governamentais. Também trazer esses grupos que produzem conhecimento fora da universidade para dentro dela e, dessa forma, termos uma integração da universidade com a sociedade.

É certo que há diversas ações de extensão que fazem esse trabalho. O objetivo e a diferença da Universidade da Cidadania é que ela busca fazer uma articulação entre diversos atores de forma que um potencialize o trabalho do outro. Por exemplo, nós temos na universidade, grupos de expressão corporal e grupos de música, que se encontraram na UC. Grupos que têm uma atuação muito forte e um conhecimento produzido fora da universidade, com trabalhos muito interessantes. Ao trazer para dentro dela esse conhecimento, ele ganha uma nova energia – não que não tenha sem a universidade, obviamente, mas quando trazemos para dentro e temos essa troca entre academia, população e grupos populares de diversos tipos, certamente todos saem ganhando.

A UC tem como marca a diversidade. Como integrar isso a proposta de transdisciplinaridade e interdisciplinaridade propostas pelo FCC? 

A Universidade da Cidadania, por si só, é de uma diversidade e de uma transdisciplinaridade que impressionam a qualquer um. [Por exemplo], temos um curso que é ao mesmo tempo de especialização e extensão universitária, que estamos fazendo junto com o ETTERN – um dos laboratórios do IPPUR. Através dessa associação, nós organizamos esse curso que se chama “Cidades, Políticas Urbanas e Movimentos Populares”. Neste curso, foram ofertadas 60 vagas. Nós temos aí um universo tão diverso, que todos os professores que vêm dar aula aqui – que acontece aos sábados – ficam impressionados com a riqueza que essa turma expressa porque temos jovens de 20 anos, até pessoas na faixa de 80 anos. Temos pessoas que estão concluindo doutorado e temos pessoas que certamente não tiveram a oportunidade de concluir alguns estágios importantes do ensino formal, não entraram na universidade, mas estão fazendo curso como alunos de extensão.

Ao juntar extensão com especialização, nós estamos dando uma oportunidade para que esses diversos grupos sociais se encontrem exatamente no local de produção do conhecimento que é a universidade. A universidade aí abrindo espaço para que esse caldeirão de conhecimento e de cultura consiga ferver e alcançar sua temperatura ideal. Os colegas que estão dando o curso são professores voluntários. Nenhum deles está recebendo ajuda de custo, nem transporte, para vir dar aula aos sábados, mas todos saem daqui reoxigenados, revitalizados por conta da relação que têm com a turma, que a turma tem com eles e que eles percebem que a turma tem entre si – uma relação de troca de energia muito boa.

Hoje, qual é o principal desafio da Universidade da Cidadania? 

A Universidade da Cidadania enfrenta o mesmo desafio que a UFRJ enfrenta e que todos os grupos que produzem conhecimento, cultura e ciência enfrentam, que é a falta de recursos e a falta de compreensão por parte de setores governamentais da importância de se produzir cultura, conhecimento, ciência e que para produzir isso, precisamos de recursos que financiem ciência, arte e cultura. Esse é o maior desafio para consolidação de um projeto que nós acreditamos que é um projeto importantíssimo para a UFRJ e para a sociedade do Rio de Janeiro. Esperamos que venha a galgar novos patamares, alcançar novos espaços e outras dimensões, não só no território nacional, mas também em associação com outras organizações universitárias que têm projetos parecidos com o da Universidade da Cidadania.

Trajetória na UFRJ

Mestre em Ciências em Arquitetura pelo PROARQ da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ) e engenheiro de segurança do trabalho pela EE/UFRJ, Jeferson Salazar é arquiteto e urbanista do quadro permanente da UFRJ, tendo passado por diferentes setores na FAU e ocupado posto de membro titular do Conselho Universitário. Em 2017 chegou à UC onde atua até hoje. 

[Por Dentro do FCC] é uma série semanal de entrevistas que apresenta o Fórum e seus órgãos suplementares à comunidade universitária e à sociedade. Nelas, os participantes discutem os projetos e as expectativas de cada órgão para os próximo quatro anos de gestão.

Confira as entrevistas anteriores da série: 

[Por Dentro do FCC] #1 Fórum de Ciência e Cultura, com Tatiana Roque
[Por Dentro do FCC] #2 Superintendência de Difusão Cultural, com Adriana Schneider
[Por Dentro do FCC] #3 Museu Nacional, com Alexander Kellner
[Por Dentro do FCC] #4 Simap, com Claudia Carvalho
[Por Dentro do FCC] #5 SiBI, com Paula Mello


Entrevista: Victor Terra
Vídeo: Yuri Aby Haçan

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