UFRJ concede título a Amir Haddad
Solenidade está confirmada para a próxima quarta-feira, 20 de março
Diretor do grupo Tá na Rua e um dos fundadores do Teatro Oficina, artista é um dos maiores nomes do teatro brasileiro
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concederá, no dia 20/3, o título de doutor honoris causa ao diretor, ator, teatrólogo, dramaturgo e professor Amir Haddad. A nomeação é a mais alta honraria da Universidade, concedida a personalidades pela relevância de suas obras para o país.
A proposta para concessão do título a Haddad foi encaminhada ao Conselho Universitário (Consuni) pelo coordenador do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, professor Carlos Vainer. “A caminhada criativa de Amir Haddad registra sua presença constante e transformadora na área do ensino, tendo atuado em várias cidades brasileiras, ajudando na criação de cursos universitários”, diz trecho do parecer aprovado pelos conselheiros. O documento destaca o papel do artista na criação do grupo A Comunidade, em 1965, com sede no Museu de Arte Moderna do Rio, e da Escola de Teatro Martins Pena, entre 1965 e 1973, entre outros. “Outro lado de suma distinção no perfil do homenageado é a sua defesa inconteste da liberdade artística”, diz o documento.
Cerimônia
A cerimônia ocorre no dia 20/3, às 17h, em reunião solene do Consuni, no salão Pedro Calmon (Palácio Universitário, campus da Praia Vermelha). Além de Amir Haddad, compõem a mesa da cerimônia o reitor da UFRJ, Roberto Leher, o coordenador do Fórum de Ciência e Cultura, Carlos Vainer, e a atriz Renata Sorrah, responsável pela saudação ao homenageado. Depois da solenidade, que é aberta ao público e será acessível em libras, haverá apresentação do Grupo Tá na Rua e participação do TUCAARTE.
Carreira
Referência do teatro brasileiro e internacional, Amir Haddad dedicou sua vida às artes cênicas, sendo figura importante na desconstrução da linguagem teatral convencional. Inquieto diante de questões envolvendo o espaço cênico e o ofício do ator, Amir desenvolveu sua obra transitando entre produções no teatro convencional e grupos de teatro alternativos, alguns dos quais foi fundador. É o caso do Teatro Oficina, fundado em 1958, do grupo A Comunidade, fundado em 1968, e do Tá Na Rua, fundado em 1980 e prestes a completar quatro décadas de existência.
Agregando a reflexão de trabalhos anteriores acerca da disposição não convencional da cena, proposição de novos usos para o espaço e novas relações entre atores e espectadores, Amir lançou-se, junto aos integrantes do Tá Na Rua, na experimentação do teatro de rua, com a realização de espetáculos em espaços abertos e públicos da cidade, como ruas, praças e parques. Vivenciando a dinâmica das ruas e aprendendo com ela, Amir e os demais integrantes do grupo viram emergir uma linguagem teatral própria, marcada pelo improviso e pela participação do público como parte da cena. Um teatro próprio sintetizado em três pilares fundamentais: teatro sem arquitetura, dramaturgia sem literatura e ator sem papel.
Para Amir, os espaços da cidade trazem em si possibilidades teatrais e de representação. Espaços em que as ruas e edifícios compõem a cenografia. Espaços em que a relação entre artistas e plateia se reconfigura na imagem do que Amir costuma chamar de ator-cidadão. Rompe-se a divisão entre os papéis: o cidadão é o artista, o artista é o cidadão. Carnavalizando o teatro e teatralizando o carnaval, o diretor desperta o sentido de religação das festas e celebrações. Com espetáculos-festas concebidos como imensos cortejos, o Tá Na Rua devolve ao teatro sua função pública e social original.
Marcado pelo princípio de que toda arte é pública por natureza, Amir Haddad fundou o Fórum Carioca de Arte Pública, que ocorre até hoje, às segundas-feiras, às 19h, na casa do Tá Na Rua, na Lapa, no Centro do Rio. Haddad tem sido figura importante na luta pela defesa das manifestações artísticas realizadas nos espaços públicos urbanos.
Foi professor de importantes escolas de teatro no Brasil e no exterior, sendo, inclusive, pedagogo convidado da Escola Internacional de Teatro Latino-Americano e Caribe, em Havana. Transitando com desenvoltura entre diferentes linguagens e formas de pensar e fazer teatro, Amir tornou-se um diretor único.
Recebe seu primeiro prêmio em 1959, com A Incubadeira, de Martinez Corrêa. Ganhou dois prêmios Molière de melhor direção: o primeiro, em 1969, com a direção de A Construção, de Altimar Pimentel.
Em 1967, Amir é convidado pelo TUCA, Teatro Universitário Carioca, para dirigir O Coronel de Macambira, de Joaquim Cardozo. Com o advento do AI-5 em 1968, o grupo, marcado pelo engajamento e intensa mobilização política, ficou sem condições de prosseguir e interrompeu suas atividades. 50 anos depois, Amir Haddad participa, junto a antigos integrantes do coletivo, da fundação do TUCAARTE – Associação TUCA de Arte e Cultura, para retomar o trabalho cultural.
Em 1970, ganha o segundo Molière, com o espetáculo O Marido Vai à Caça, de Georges Feydeau. Em 1973, monta junto ao grupo Teatro Mágico o histórico espetáculo SOMMA ou Os Melhores Anos de Nossas Vidas, que estrei em 1974, no Rio de Janeiro. Ao colocar a plateia no palco e adotar a improvisação como recurso experimental na condução das cenas, a obra chama atenção e é censurada após 15 apresentações.
No teatro convencional, Amir realizou trabalhos como diretor que lhe valeram o Prêmio Shell por Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, em 1989, e o Prêmio Sharp, por O Mercador de Veneza, de William Shakespeare, em 1996.
Dirigiu artistas como Renata Sorrah, Pedro Cardoso e Tonico Pereira, em Noite de Reis, de Shakespeare, em 1997, Clarice Niskier, em A Alma Imoral, de Nilton Bonder, com estreia em 2006 (espetáculo que ficou mais de 12 anos em cartaz) e, mais recentemente, Andréa Beltrão, em Antígona, de Sófocles, estreado em 2016.
Ao longo dos mais de 60 anos de carreira, Amir Haddad realizou mais de 250 espetáculos, acumulando trabalhos memoráveis e se consolidando como figura singular no cenário artístico-cultural do Brasil.
Serviço
Data e horário: 20/3/2019 (quarta-feira), às 17h
Local: Salão Pedro Calmon, Palácio Universitário – Campus da Praia Vermelha – UFRJ
Endereço: Avenida Pasteur, 250 – Urca