“É difícil pensar o presente, mas o futuro é algo que podemos elaborar de maneira bastante criativa”
Criado há 15 anos, o CBAE tem a missão de atuar como espaço institucional interdisciplinar, de encontro, debate e construção de conhecimento. Leia a entrevista com a professora Ana Célia Castro, nona entrevistada da série Por Dentro do FCC. “A marca [da gestão] é a inclusão. O CBAE como um espaço democrático, em que se possa discutir tudo de maneira bastante ampla. Um espaço de alto nível, mas de acolhimento”, afirmou Ana Célia.
Reunir especialistas e sociedade num mesmo espaço para debater questões envolvendo ciência, cultura e tecnologia ainda parece uma ideia distante para muita gente. E mesmo que haja dificuldades nessa aproximação, há sim espaços na universidade para isso. É exatamente esse o papel do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ.
Criado há 15 anos, o CBAE tem a missão de atuar como espaço institucional interdisciplinar, de encontro, debate e construção de conhecimento. A partir da organização de projetos e atividades, o órgão vem aproximando especialistas, estudantes e membros da sociedade civil com a intenção de reduzir as fronteiras entre academia e sociedade, contribuindo para a construção de projetos de futuro para o país.
“É muito difícil pensar o presente no momento em que estamos vivendo. O passado é muito interessante, o presente é difícil, mas o futuro é algo que podemos elaborar de maneira bastante criativa”, afirma Ana Célia Castro, nova diretora do CBAE e a primeira mulher a ocupar o cargo. Contando sobre os novos projetos e a missão do órgão, a professora é a convidada da 9ª edição da série Por Dentro do FCC.
A história do Colégio Brasileiro de Altos Estudos
CBAE está localizado na Av. Rui Barbosa, 762, local em que funcionou a Casa do Estudante Universitário (CEU)
O Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) da UFRJ foi criado em 2004 e no mesmo ano se tornou órgão integrante do Fórum de Ciência e Cultura (FCC). Desde 2009, o CBAE concentra suas atividades no prédio onde antes funcionava a Casa do Estudante Universitário, localizado na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo.
Com a missão de servir como espaço institucional interdisciplinar, o CBAE organiza projetos, cursos e atividades que reúnem professores, estudantes e público externo para debater, trocar e produzir reflexão e conhecimento científico.
A concepção do órgão é inspirada na experiência dos institutos de estudos avançados de universidades estadunidenses e europeias. A intenção é construir, no âmbito universitário, centros de caráter interdisciplinar, capazes de gestar ideias em prol do desenvolvimento científico, tecnológico e social do país.
Confira trechos da entrevista e a íntegra no texto abaixo:
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O que é o CBAE?
“O CBAE é um espaço interdisciplinar e interinstitucional da universidade”, explica Ana Célia Castro, diretora do CBAE, que é também professora titular do Instituto de Economia (IE/UFRJ). Uma das criadoras do curso de Pós-graduação em Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento (PPED/IE/UFRJ), Castro traz a experiência de organizar projetos interdisciplinares, capazes de agregar diferentes campos do conhecimento e especialistas de setores variados.
15 anos do CBAE: reestruturação e continuidade
Com 15 anos recém-completados, o CBAE comemorou o aniversário em setembro de 2019, com a organização do seminário “Novos Paradigmas”. Para Ana Célia Castro, o evento foi importante para rememorar a história do órgão. Ela destacou a importância dos ex-diretores para a composição da estrutura que o CBAE tem hoje. “Esses diretores, cada um à sua maneira, tiveram uma importância muito grande na criação do CBAE. Eu o recebo com uma estrutura muito interessante”, afirmou. Castro disse ainda que os três diretores antecedentes terão um papel importante na nova estrutura do órgão. “Adilson de Oliveira [primeiro diretor do CBAE, entre 2005 e 2011] está preparando um curso bastante interessante sobre gás natural, Luiz Bevilacqua [segundo diretor, de 2011 a 2012] irá nos ajudar na discussão da Universidade do Futuro. José Sérgio Leite Lopes [último diretor, entre 2012 e 2019], já está bastante inserido porque desenvolve o Memov [Programa de Memória dos Movimentos Sociais] e esse é um movimento muito importante, que precisa continuar”.
Mesa de abertura do evento de comemoração dos 15 anos do CBAE reuniu Nelson Barbosa, Ana Célia Castro, Elisa Reis e Stevens Rehen (da esq. para a dir.)
Projetos em curso
A diretora explicou que há intenção de reestruturar algumas partes do órgão, mas manter as iniciativas já existentes e que vem produzindo bons resultados, classificadas por ela como “projetos fundamentais”. É o caso do Programa de Memória dos Movimentos Sociais, o Memov. Criado em 2014, a iniciativa promove o trabalho de resgate e preservação da memória e das experiências relacionadas aos trabalhadores e outros grupos sociais no contexto brasileiro. As atividades vão desde a organização de seminários e cursos à reunião de acervos produzidos por instituições e pesquisadores acadêmicos.
Outro projeto já em curso envolve a temática das mudanças climáticas. No segundo semestre de 2019, por exemplo, o CBAE realizou um curso interdisciplinar voltado para alunos de pós-graduação da UFRJ, intitulado “Desastres e mudanças climáticas: construindo uma agenda”. Como resultado, foram produzidas propostas práticas para a atuação frente às problemáticas do aquecimento global e da emergência climática.
Aula do curso sobre mudanças climéticas lotou o Salão Pedro Calmon, em agosto de 2019
Participação no projeto “A UFRJ Faz 100 Anos”
Quanto aos projetos em construção, Ana Célia destacou a iniciativa definida como o “Programa dos Futuros”. Ela conta que as atividades vêm sendo gestadas e farão parte da agenda de comemorações do centenário da UFRJ, celebradas ao longo de todo o ano de 2020. Conforme o nome indica, a iniciativa tem como objetivo pensar propostas para o futuro do país e do mundo, indagando sobre o papel da universidade nas próximas décadas.
“É muito difícil pensar o presente no momento em que estamos vivendo. O passado é muito interessante, o presente é difícil, mas o futuro é algo que podemos elaborar de maneira bastante criativa. Na programação das comemorações do centenário da UFRJ, o CBAE ficou com a tarefa de pensar o futuro. Há muitos institutos de futuro e esses institutos têm muito o que dizer. Nessa comemoração, nós pensamos em organizar dois grandes eventos: o primeiro se chamará “Os Amanhãs Desejáveis”. É um evento prospectivo, que olha para o futuro e pensa sobre os temas que todos nós concordamos que são os mais relevantes: mudanças climáticas, energia, desigualdades sociais, inteligência artificial, mudanças tecnológicas.
Todos esses temas vão estar presentes em “Os Amanhãs Desejáveis”. Não é só pensar quais são as alternativas que existem, mas pensar aquelas que nós queremos, que nós escolhemos”. O evento acontecerá entre 26 e 29 de maio de 2020 e, segundo a diretora, está sendo preparado a partir de uma série de entrevistas realizadas junto a atores internacionais que se destacam como referência nos eixos temáticos propostos e ainda não divulgados oficialmente.
“O outro evento se chama “UFRJ + 100: propostas para o Brasil”. Nós precisamos de propostas para o Brasil. E esse movimento de pensar as propostas não pode ser improvisado. Nós precisamos preparar o evento [que deve acontecer em outubro] de uma maneira consistente”.
Inclusão e alto nível: o CBAE dos próximos quatro anos
“A marca [da gestão] é a inclusão. O CBAE como um espaço democrático, em que se possa discutir tudo de maneira bastante ampla. Um espaço de alto nível, mas de acolhimento. Acolhimento das diferenças, das várias plataformas, das excelências e das questões da cultura; das questões do ensino; das questões da pesquisa, seja na fronteira do conhecimento, seja [no que diz respeito às] questões da interdisciplinaridade”, explicou.
“Nesse movimento de integração, que a gente pretende que seja a marca, é necessário um sistema de aconselhamento. Então, eu penso em três plataformas: a primeira plataforma é a que já existe como Fórum Brasileiro de Estudos Avançados (FOBREAV). Esse é, sem dúvida, um conjunto de institutos que queremos que venham conversar com a gente. Uma segunda plataforma é a dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) do Rio de Janeiro. Vários são da UFRJ. São 21 programas no Rio de Janeiro. A terceira plataforma é dos programas de pós-graduação de excelência da UFRJ, que têm notas 6 e 7 na avaliação da CAPES”.
Entre outros projetos, a diretora contou que pretende criar um ciclo de debates sobre os lançamentos das publicações produzidas pelos professores da UFRJ. “Eu convidaria todos os professores que estão publicando nas suas unidades, que viessem uma vez por mês conversar sobre seus livros, com debatedores, apresentando suas obras. A ideia é que atividade ocorra na primeira terça-feira do mês e seja acompanhada por uma roda de conversa ‘amiga e relaxada’, com o autor e os produtores do livro, para debater tanto o conteúdo da publicação como a importância da produção intelectual da UFRJ”.
Trajetória na UFRJ
Ana Célia Castro é professora titular do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, vice-coordenadora do Programa de Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento e vice-coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento. Sua trajetória na UFRJ começou em 2005, depois de ter passado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Contribuiu diretamente com a criação dos cursos de graduação em Gestão Pública e Desenvolvimento e de Pós-graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento, ambos na UFRJ. Assumiu a direção do CBAE em setembro de 2019.
[Por Dentro do FCC] é uma série de entrevistas que apresenta o Fórum e seus órgãos suplementares à comunidade universitária e à sociedade. Nelas, os participantes discutem os projetos e as expectativas de cada órgão para os próximo quatro anos de gestão.
Confira as entrevistas anteriores da série
[Por Dentro do FCC] #1 Fórum de Ciência e Cultura, com Tatiana Roque
[Por Dentro do FCC] #2 Superintendência de Difusão Cultural, com Adriana Schneider
[Por Dentro do FCC] #3 Museu Nacional, com Alexander Kellner
[Por Dentro do FCC] #4 Simap, com Claudia Carvalho
[Por Dentro do FCC] #5 SiBI, com Paula Mello
[Por Dentro do FCC] #6 Universidade da Cidadania, com Jeferson Salazar
[Por Dentro do FCC] #7 Editora UFRJ, com Marcelo Jacques de Moraes
[Por Dentro do FCC] #8 Núcleo de Rádio e TV, com Marcelo Kischinhevsky
Reportagem: Victor Terra
Fotografia: Bira Soares e Eneraldo Carneiro
Operação de câmera e edição de vídeo: Theo Andrada e Yuri Aby Haçan