Divulgação científica: o que é e por que ganhou projeção nos últimos anos

É considerado divulgação científica qualquer atividade cuja finalidade é disseminar o conhecimento científico para além dos muros das universidades. O Fórum desenvolve uma série de projetos, saiba mais. 

Abertura no Fórum de Ciência e Cultura do curso de formação de jovens lideranças para reagir às mudanças climáticas.

Fábio Scarano, professor de Ecologia da UFRJ e membro do IPCC, participou da aula de abertura do curso “A Chapa Esquentou, Cria!” | Foto: Eneraldo Carneiro/Fórum de Ciência e Cultura da UFRJO debate sobre a importância da divulgação científica intensificou-se desde a eclosão da pandemia do novo coronavírus. Diversos profissionais da área ganharam projeção nos principais veículos de comunicação do país, o que levou ao aumento da presença de informações científicas em jornais, sites noticiosos e programas televisivos.

O cenário, dessa forma, contribuiu para a expansão do interesse das pessoas sobre os assuntos relacionados à ciência. Além disso, também contribuiu para que mais pessoas se interessassem pela atividade como alternativa de carreira profissional.

Para explicar o que é divulgação científica, o Fórum de Ciência e Cultura organizou abaixo as principais dúvidas sobre o assunto:

O que é divulgação científica

Divulgação Científica é o conjunto de atividades que pode ser realizado com a finalidade de aproximar o público amplo da produção científica. O conceito engloba desde textos jornalísticos que noticiam novas descobertas, o início de novas pesquisas ou reportam o trabalho de cientistas até a organização de uma exposição sobre algum tema de relevância científica e social.

Segundo, Christine Ruta, da Superintendência de Divulgação Científica (SuperCiência) do Fórum, o objetivo é “tornar o conhecimento científico acessível”. “O ato de tornar acessível é traduzir o jargão, a linguagem ou o vocabulário científico para a sociedade. Existe uma distância estrutural que precisa ser mediada e a divulgação científica trabalha precisamente para diminuir esse distanciamento”, diz a superintendente.

O Fórum desenvolve algumas iniciativas com esse propósito. Em 2021, por exemplo, foi oferecido um curso em parceria com a Agência Bori — empresa especializada em produção de materiais de disseminação das atualizações da academia. O público-alvo da ação foram pós-graduandos e servidores da UFRJ.

Além disso, o Fórum também promoveu neste ano o curso “A Chapa Esquentou, Cria!”, que tinha como proposta a formação de jovens lideranças para atuarem em movimentos sociais que atuam nas causas do meio ambiente e das mudanças climáticas.

Saiba mais

Qual a finalidade da divulgação científica

O avanço de pesquisas nem sempre é algo perceptível para as pessoas de fora do meio acadêmico, isso devido ao tempo necessário para a construção do conhecimento, bem como às metodologias e terminologias praticadas pelos cientistas que fogem à compreensão do público em geral.

Por outro lado, os saberes populares também têm muito a contribuir para a ciência, seja para a proposição de soluções ou identificação de problemas. A finalidade da divulgação científica é, portanto, a aproximação dos conhecimentos produzidos pela ciência daqueles disseminados na prática e no imaginário social.

Por que a divulgação científica ganhou tanta projeção nos últimos anos?

Não é de hoje que são realizadas ações de divulgação científica. No Brasil, há pelo menos dois séculos são praticadas ações com o intuito de aproximar o conhecimento científico da sociedade.

Esse debate, no entanto, ganha força à medida em que o discurso científico passa a ser colocado em dúvida. Uns dos marcos temporais mais recentes são: a divulgação das informações sobre os efeitos das mudanças climáticas e a descoberta do Sars-Cov-2 (o novo coronavírus).

Christine Ruta explica que com o passar dos anos, a produção científica se torna mais volumosa e as atualizações dos conhecimentos se dão mais rapidamente. Isso acaba afastando o público da academia. “O distanciamento entre a produção científica atualizada das universidades e a sociedade acaba resultando em vulgarização da ciência”, afirma. “Um dos exemplos extremos é a onda negacionista. No Brasil, nestes últimos anos foi perceptível a necessidade de um forte investimento nas estratégias de aproximação do conhecimento científico em relação à sociedade”, conclui.

Como fazer divulgação científica

foto mostra inovateca projeto de divulgacao cientifica do Parque Tecnológico da UFRJ

O Parque Tecnológico da UFRJ, localizado no campus do Fundão, promove exposições sobre ciência. | Foto: Parque Tecnológico da UFRJ/Reprodução Facebook

A divulgação científica pode ser praticada de diversas formas — vídeos, textos, intervenções, exposições, etc. A formulação dessas iniciativas deve ser realizada de maneira a elucidar os assuntos investigados pela ciência.

No entanto, quando se fala em ações para a promoção da ciência é comum que o pensamento seja remetido à escrita de artigos. Nesse caso, o tipo de texto utilizado é dissertativo expositivo. Isso porque a sua finalidade é apresentar conceitos, reportar pesquisas, anunciar novidades, etc. Um exemplo desse tipo de texto é a reportagem jornalística. As características da dissertação expositiva são:

  • O primeiro parágrafo do texto deve conter as principais informações: qual/o que é o problema; quando ele começou a ser investigado; por que/onde ele está sendo investigado; quem está investigando; etc;
  • O corpo do texto deve desenvolver o tema trazendo as informações mais recentes e relevantes. É importante aproximar o objeto do conhecimento do leitor de forma didática, evitando jargões (termos muito técnicos) e ilustrando o assunto (não só por meio de recursos gráficos, mas também por exemplificações ou explicações detalhadas);
  • O último parágrafo deve servir como o fechamento do texto. Dessa forma, é importante trazer informações conclusivas, mostrar a importância do assunto para o futuro, expor os próximos passos, apresentar os resultados da pesquisa, etc;
  • Os verbos devem ser flexionados na terceira pessoa, como marca de distanciamento do texto. O objetivo da dissertação expositiva não é opinar, mas expor um assunto. Dessa forma, não é comum o uso de verbos e pronomes na primeira pessoa — como “eu penso”, “nós acreditamos”, “construímos um equipamento”, etc;
  • Um texto dissertativo expositivo é literal, portanto, não é recomendável o uso de figuras de linguagem ou artifícios próprios da literatura;
  • Recomenda-se que as orações sejam dispostas na ordem direta, ou seja, com a apresentação do sujeito da ação seguido do predicado.
    Exemplo:

    • João comeu todas as frutas (ordem direta).
    • Todas as frutas foram comidas por João (ordem inversa).
  • Também devem ser evitados os períodos muito longos, com muita intercalação de vírgulas.
    Exemplo:

    • O caju fortalece o sistema imunológico. Suas propriedades aumentam a produção de glóbulos brancos, que são responsáveis pelo combate às infecções. (construção recomendada).
    • O caju tem propriedades que fortalecem o sistema imunológico, aumentando o número de glóbulos brancos, que são importantes para a produção de anticorpos e para o combate às infecções. (construção que deve ser evitada)

Além do texto, outras formas de comunicação podem ser utilizadas com o objetivo de propagar as novidades da Ciência. Atualmente, é bastante comum que profissionais façam esse tipo de trabalho nas redes sociais ou que instituições promovam eventos com esse fim.

Ainda que sejam linguagens diferentes, a lógica de organização de tais iniciativas é a mesma do artigo: deve-se aproximar o conhecimento científico da realidade do espectador e explicar o assunto da forma mais detalhada possível.

Divulgar os avanços científicos, porém, não se restringe a acadêmicos ou a jornalistas especializados. A atividade pode ser feita por qualquer pessoa, desde que ela se capacite e se mantenha em contato com as universidades e pesquisadores.

Em 2022, a SuperCiência promoverá um curso de formação em divulgação científica aberto ao público amplo. As aulas serão ministradas pelo professor Hugo Fernandes (UFC). Outras universidades brasileiras também contam com projetos de formação semelhantes.

Exemplos de divulgação científica

aplicativo de traducao em libras leva divulgacao cientifica acessivel para pessoas surdas

Uma pesquisadora da Coppe UFRJ desenvolveu um aplicativo para que pessoas surdas possam compreender objetos de exposições sem a necessidade da presença de um tradutor de linguagem de sinais. | Foto: Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE)/Reprodução Facebook

Atualmente, diversas instituições brasileiras desenvolvem iniciativas com o objetivo de promover a Ciência. As ações são desde a especialização do atendimento à imprensa com a criação de bancos de dados ou serviços de indicação de pesquisadores para falar com a imprensa; até a criação de plataformas que dialogam diretamente com o público.

A FioCruz produz diversos conteúdos sobre o trabalho dos pesquisadores associados à fundação. Os materiais são publicados diariamente em seu endereço eletrônico. Além disso, a Fapesp oferece a Revista Fapesp que divulga informações sobre pesquisas produzidas pelas universidades paulistas.

Na UFRJ, o Parque Tecnológico, sediado no Fundão, realiza exposições na Inovateca. O espaço é dedicado para a promoção de eventos sobre o desenvolvimento de novas tecnologias e os avanços da ciência. A webdesigner Priscyla Gonçalves Ferreira Barbosa, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE-UFRJ), desenvolveu um aplicativo de descrição em Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), que ajuda deficientes auditivos a compreenderem os objetos apresentados em uma exposição.

Projetos do Fórum de divulgação científica

Na UFRJ, o Fórum é o responsável pela divulgação científica da universidade. Ao longo dos anos, diversos projetos foram postos em prática. Recentemente, o Fórum firmou uma parceria com a Agência Lupa de colaboração com a construção de um banco de dados de pesquisas acadêmicas e promoveu o curso “A Chapa Esquentou, Cria!”, que levou conhecimentos sobre as mudanças climáticas para jovens que vivem em regiões periféricas.

Durante a pandemia, também foi criado o curso on-line “Saber Comum”, que debateu assuntos de relevância social junto com professores e pesquisadores de diversas universidades brasileiras. O Fórum também criou em 2020, o podcast do projeto “Diálogos Cariocas”, que buscou debater os problemas vividos na cidade do Rio de Janeiro através das soluções que as universidades podem propor.

O I Encontro de Divulgação Científica, por sua vez, foi realizado em 2021. O evento ofereceu, para pós-graduandos e servidores da UFRJ, cursos de capacitação para a disseminação de informações científicas. Em junho deste ano, o Fórum realizará a Semana do Meio Ambiente. A programação contará com mesas de debates e apresentações sobre a degradação do meio ambiente, projetos urbanos, mudanças climáticas e impactos na sociedade.

Veja mais

Se inscrever
Notifcar de
0 Comentários
Feedbacks Inline
Ver todos os comentários